Dia mais importante do calendário judaico, o Shabat é mencionado inúmeras vezes na Torá. Lemos logo no início:
“Estavam completos o céu e a terra e todas as suas hostes. Deus já completara, no sétimo dia, o trabalho que vinha fazendo; e já cessara, no sétimo dia, todo o trabalho que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, porque nele deu por encerrado todo o trabalho de criação a fazer”. (Gên. 2:1-3) O Shabat é o quarto mandamento nas Asséret Hadibrot, os Dez Pronunciamentos ou Dez Mandamentos:
Parashat Yitró: Lembre-se do dia de Shabat para santificá-lo. Por seis dias você trabalhará e fará toda a sua obra, mas o sétimo dia é Shabat para o Eterno, seu Deus: você não fará nenhuma obra; você, seu filho e sua filha; seu servo e sua serva; seus animais e o seu estrangeiro na sua casa. Porque em seis dias o Eterno fez o céu e a terra e o mar e tudo o que há neles, mas no sétimo dia repousou; por isso o Eterno abençoou o dia de Shabat e o santificou. (Êx. 20:8-11)
Parashat Vaetchanán: Guarde o dia de Shabat para santificá-lo, conforme lhe ordenou o Eterno, seu Deus. Por seis dias você trabalhará e fará toda a sua obra, mas o sétimo dia é Shabat para o Eterno, seu Deus: você não fará nenhuma obra; você, seu filho e sua filha; seu servo e sua serva; seu boi, seu jumento e todos os seus animais; e o seu estrangeiro na sua casa – para que repousem o seu servo e a sua serva como você. Você se lembrará que foi escravo na terra do Egito, e que o Eterno, seu Deus, tirou-lhe de lá com mão forte e braço estendido; por isso o Eterno seu Deus, ordenou-lhe praticar o dia de Shabat. (Deut. 5:12-15)
Quando e como celebramos
O Shabat começa na sexta-feira pouco antes do entardecer e termina no sábado, após o anoitecer.
Marcamos o seu início com o acendimento das velas de Shabat e a bênção correspondente, cerca de 18 minutos antes do pôr do sol da sexta-feira; e o seu encerramento com a Havdalá, cerca de 42 minutos após o pôr do sol do sábado.
Mulheres e homens podem acender velas de Shabat. Há diversos costumes. Em muitos lares, são acesas tantas velas quantas são as pessoas que vivem naquela casa. Outro costume é acender duas velas. Uma explicação é que as velas representam a mitzvá: Zachór (lembre) e Shamór (guarde) o dia de Shabat.
Às sextas-feiras temos, na nossa sinagoga, serviços de Cabalat Shabat e Arvit de Shabat, seguidos de um kidush comunitário. As famílias judias também realizam o kidush em suas casas.
Tanto na sinagoga quanto em casa, o kidush é concluído com uma bênção sobre o vinho, que celebra a alegria e a doçura do Shabat; e sobre duas chalot (chalá: pão trançado típico de Shabat), que nos lembram das duas porções de maná que Deus dava ao Povo de Israel no deserto, uma para a sexta-feira e outra para o sábado. Em seguida costuma-se realizar um jantar especial, mais elaborado e demorado do que durante a semana.
Ainda na sinagoga, há aos sábados o serviço de Shacharit com leitura da Torá (pela manhã), Minchá com leitura da Torá (à tarde) e Arvit (à noite). Em seguida realiza-se a Havdalá, quando, por meio de uma bela cerimônia com vinho, velas e especiarias, despedimo-nos do Shabat e iniciamos a nova semana.
Para além dos serviços religiosos
O Shabat também é um dia para se dedicar à família, ao prazer, à contemplação do mundo, sem interferir no ritmo da natureza. O rabino Abraham Joshua Heschel costumava dizer que o Shabat é um templo no tempo, um dia de reflexão e de gratidão. Um dia para que a nossa alma, desgastada pela semana, receba uma dose extra de alma, por assim dizer. Ao final do Shabat, revigorados, desejamos a todos Shavua Tov, uma boa semana, produtiva e principalmente significativa.
O início do ano, nos dois primeiros dias do mês judaico de Tishrei – por volta de setembro/outubro. Marca o início de dez dias conhecidos como Yamim Noraim – Dias Temíveis ou Dias Intensos – que terminam em 10 de Tishrei, Yom Kipur.
Como é celebrado
Na sinagoga, rezamos, lemos na Torá, refletimos, pedimos perdão a Deus e às pessoas pelos erros que cometemos no ano que passou.
Em casa, na véspera de Rosh Hashaná reunimos a família e amigos para um jantar festivo, com diversos alimentos simbólicos à mesa, entre eles: - Chalá redonda e doce, que representa os altos e baixos da vida e o desejo de um ano doce. - Maçã com mel ou feita em açúcar queimado. - Guefilte fish (bolinhos de peixe) com uma rodela de cenoura em cima; ou simplesmente rodelas de cenoura, que representam o desejo de um ano próspero. - Grãos de romã, que representam as mitzvot que devemos cumprir durante o novo ano. Há inúmeros costumes sobre quais alimentos servir no jantar de Rosh Hashaná. Mas o mais importante é que simbolizem o nosso desejo de um ano bom, doce e próspero, com saúde e significativo.
Em Rosh Hashaná desejamos uns aos outros Shaná Tová Umetuká, um ano bom e doce.
O dia 10 de Tishrei é Yom Kipur: o Dia da Expiação ou do Perdão. Para muitos é o dia mais sagrado da religião judaica, quando pedimos perdão aos nossos semelhantes e a Deus por nossos erros e nos comprometemos a não cometer os mesmos erros. São cerca de 25 horas de jejum completo, dedicadas à tefilá (reza), à teshuvá (reflexão e arrependimento) e à tzedaká (doar em favor dos mais necessitados). O jejum é obrigatório a partir dos 12 anos para as meninas e dos 13 anos para os meninos. Antes disso, os jovens são estimulados a manter o jejum por pelo menos 12 horas, como forma de vivenciar o espírito do feriado.
Como é celebrado
Na tarde anterior à noite de Yom Kipur há uma refeição especial antes do jejum e o acendimento de duas velas com a bênção correspondente. Alguns têm o costume de entrar na mikve antes de Yom Kipur. Outros, de realizar o rito de kapará, para a expiação dos pecados. Para aqueles/as que desejam realizar este rito, nós orientamos que façam uso de dinheiro (e não de uma galinha), que depois será doado como tzedaká para uma instituição beneficente.
O serviço religioso de Yom Kipur inicia na véspera, com o Kol Nidrei, quando nos dispomos a anular todas as promessas vãs para o ano que se inicia; este é seguido por Arvit (serviço noturno). Durante o dia, temos os serviços de Shacharit e Mussaf, Minchá e Neilá, seguida de Arvit e da Havdalá, que diferencia o Yom Kipur do dia que se inicia.
Durante o dia também lemos passagens especiais da Torá e também o Livro de Jonas. Ao final de Yom Kipur na sinagoga, o jejum é quebrado com água e comidas leves. Em casa é comum receber os amigos e parentes para um jantar festivo.
A festa de Sucot, que significa “Cabanas” em hebraico, é comemorada cinco dias depois de Yom Kipur, entre os dias 15 e 22 de Tishrei (por volta de outubro).
Em Israel, no hemisfério norte, ocorre no outono e coincide com o fim do principal período de colheita. O feriado relembra os anos em que o povo de Israel passou no deserto e se abrigava em tendas provisórias, desde a saída do Egito à chegada à Terra de Israel. Conhecida como uma das Shlóshet Haregalim, as três Festas de Peregrinação, Sucot marca uma das épocas em que os judeus peregrinavam até o Templo em Jerusalém. As outras duas eram em Pessach e Shavuot.
Como é celebrado
Para recordar as dificuldades encontradas pelos hebreus no deserto e suas frágeis moradas, assim que termina Yom Kipur iniciamos a construção da Sucá, uma tenda com paredes frágeis e o teto parcialmente vazado, feito com folhagens, de modo que se possa ver o céu e ficar exposto às intempéries do tempo.
Os primeiros e últimos dias são Chag, feriado religioso. Os dias intermediários são chol hamoêd Sucot, quando o espírito da festa é mantido, mas continua-se com vida normal.
A sucá é montada nos quintais das casas, escolas e sinagogas, sempre em local aberto, de modo que possamos ter os pés no chão e ver as estrelas através do teto vazado.
É uma mitzvá pelo menos sentar-se e fazer uma refeição na sucá durante seus oito dias. A Sucá deve ser alegre e acolhedora, e pode ser decorada com luzes, flores e frutas, com cartazes feitos por crianças, papéis coloridos, mensagens e imagens da terra de Israel. Costuma-se também pendurar cartazes com desenhos relacionados aos Ushpizin e às Ushpizot. São os hóspedes célebres, antepassados do nosso povo, que simbolicamente se reúnem conosco na Sucá.
Na sinagoga ou até mesmo na sucá, durante o serviço religioso, recitamos a brachá e seguramos os Arba Minim, quatro espécies vegetais com características diferentes, às quais foram dadas, ao longo das gerações, muitos significados. Entre eles, as diferentes espécies representam a diversidade do Povo de Israel – e mesmo diferentes, continuamos unidos. São elas: Etrog: espécie de cidra, com sabor e aroma pronunciados. Lulav: ramo de tamareira, cujo fruto é saboroso, mas não tem aroma. Hadas: ramos de murta, que não têm sabor, mas possuem aroma agradável. Aravá: ramos de salgueiro (ou chorão), que não têm aroma nem sabor. Mas da madeira do salgueiro foi extraído o princípio ativo da aspirina.
O oitavo dia de Sucot é Sheminí Atzéret, oitavo dia de celebração desta festa tão querida do povo judeu.
Comemorada no dia 23 de Tishrei, um dia depois de Sheminí Atzéret, celebra a Entrega da Torá ao Povo de Israel no Sinai, há mais de 3.300 anos. Neste dia encerramos e reiniciamos a leitura da Torá.
Como é celebrado
Neste dia todos os Sifrei Torá (rolos da Torá) são retirados do Aron Hakódesh. É costume que todos os membros da comunidade – homens, mulheres e crianças – cantem e dancem com a Torá, com muita alegria. Em algumas comunidades é aberto um Sefer Torá inteiro, segurado pelos membros da comunidade. Deste modo, todos podem ver a Torá de perto e identificar trechos marcantes, como Shirát Haiam (a Canção do Mar), Asséret Hadibrot (Dez Falas ou Dez Mandamentos), o Shemá, o início e fim de cada um dos livros da Torá. Também existe a tradição de as crianças segurarem bandeirinhas coloridas e dançarem com miniaturas da Torá.
Durante o serviço religioso, lemos o final e o início da Torá, representando o estudo contínuo e a possibilidade de sempre aprendermos com novas releituras e interpretações da Torá.
Chanucá é conhecida como a Festa das Luzes e é celebrada no dia 25 de Kislev. A palavra também significa rededicação e marca a reinauguração do Templo Sagrado de Jerusalém, após ter sido profanado pelos invasores assírios. Tem duração de oito dias e celebra a vitória da luta dos Macabeus contra a dominação estrangeira, por volta do ano 165 aec.
Como é celebrada
Durante as oito noites da festa acendemos as velas da Chanukiá, um candelabro com nove braços, a cada dia uma vela a mais, até chegarmos a oito velas acesas. Elas nos lembram do óleo que manteve a Menorá acesa por oito dias quando só havia óleo para um dia. O nono braço, o shamásh, tem a vela usada para acender as demais. A cada dia de Chanucá acendemos um número de velas correspondente àquele dia. Um brinquedo tradicional de Chanucá é o sevivon ou dreidel, peão de quatro lados com as letras hebraicas nun, guímel, hê e shin, que são as iniciais de “um grande milagre aconteceu lá”.
Em Chanucá reunimos a família e amigos para festejar, trocar presentes e fazer uma refeição com pratos típicos da festa, como bolinhos fritos de batata e sonhos fritos em óleo, para relembrarmos o milagre do óleo.
Ano novo das árvores, celebrado no dia 15 de Shvat.
Neste dia é tradição plantar árvores, comer frutas típicas da Terra de Israel, como uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras e ainda realizar um Seder de Tu bi’Shvat, tradição cabalística que vem se tornando cada vez mais popular.
Celebra-se no dia 14 de Adar. Lembra os eventos passados pela comunidade judaica na Pérsia, na época do rei Achashverósh, na Pérsia.
A história de Purim é relatada na Bíblia Hebraica, na Meguilát Ester (Livro de Ester). Na sinagoga, ao lermos a Meguilá, toda vez que o nome de Hamán é citado faz-se muito barulho com raashanim (reco-recos), gritaria ou batendo os pés, para que “seu nome seja esquecido”.
A seguir faz-se uma refeição festiva, precedida por Mishlôach Manot, troca de cestas de alimentos; também são enviadas Matanot Laevionim, doações aos mais pobres. É costume as pessoas virem fantasiadas para Purim.
Pessach é a Festa da Liberdade, pois comemoramos libertação do povo hebreu de sua escravidão no Egito. Comemoramos Pessach entre os dias 15 e 22 de Nissan.
Como é celebrado
No dia anterior, retiramos tudo que seja a base de trigo, cevada, centeio ou aveia. Nas duas primeiras noites de Pessach realizamos um jantar especial chamado Seder. Durante o Seder lemos a Hagadá de Pessach.
Na mesa do Seder são colocadas matzot (pães não fermentados), para lembrar que os hebreus comeram um alimento miserável ao saírem do Egito, pois não tiveram tempo de fermentar o pão. É deixado um cálice de vinho especial para Eliahu Hanaví, o Profeta Elias, e uma taça de água para Miriam Haneviá, a Profetisa Miriam. É colocada sobre a mesa uma travessa conhecida como Keará com os seguintes elementos: Maror – ervas amargas que relembram o sofrimento do povo de Israel. Charosset – mistura doce feita de maçã, nozes, vinho e canela, que representa os tijolos feitos pelos hebreus para as construções egípcias durante a escravidão. Beitzá – ovo, que simboliza o ciclo da vida. Karpás – verduras que devem ser molhadas na água com sal. Chazéret – segunda porção de ervas amargas. Zeroá – um osso com carne assada.
Dia em Memória do Holocausto.
A data escolhida foi em função do levante do Gueto de Varsóvia, quando jovens judeus resistiram aos nazistas e deram suas vidas pelo povo judeu.
A data é lembrada no dia 25 de Nissan. Em Israel grande parte do comércio fecha, são tocadas sirenes em todo o país e as pessoas fazem dois minutos de silêncio.
Dia em memória dos soldados caídos (falecidos) em guerras e atentados no Estado de Israel. Ocorre um dia antes de Yom Haatzmaut, o Dia da Independência de Israel.
Dia da Independência do Estado de Israel, no dia 5 de Yiar. Israel tornou-se um Estado moderno independente no dia 14 de maio de 1948.
Festividade que ocorre no 50o dia desde o início de Pessach. Também conhecida como Chag Habicurim (Festas das Primícias) e Chag Matan Torá (Festa da Entrega da Torá). Shavuot é comemorada no dia 6 de Sivan. As sinagogas são decoradas com flores e folhagens. Durante o serviço matinal é narrada a entrega dos Dez Mandamentos. Outra prática é a leitura de Meguilát Ruth, o Livro de Ruth.
Costuma-se fazer uma refeição a base de laticínios.
9 de Av, dia de luto coletivo, principalmente em memória da destruição do Primeiro e Segundo Templos Sagrados de Jerusalém. Tradicionalmente, em Tishá b’Av cumpre-se um jejum de 25 horas, só comparável ao de Yom Kipur. Muitos judeus iniciam um período de semiluto três semanas antes, a partir do dia 17 de Tamuz, quando os babilônios iniciaram o cerco a Jerusalém. Ao longo dos séculos, outras tragédias ocorreram em datas próximas a este dia, como a expulsão dos judeus da Espanha e o início da Primeira Guerra Mundial, que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial e ao Holocausto.
Dia 15 de Av. No período do Segundo Templo, há mais de 2 mil anos, servia como um dia “casamenteiro” para jovens solteiros e solteiras. A primeira menção à data está na Mishná (séc. 2), citada por Raban Shimon ben Gamliel: “Não havia dias melhores (mais felizes) para o Povo de Israel do que 15 de Av e Yom Kipur, uma vez que nestes dias as filhas de Israel/Jerusalém saíam vestidas de branco e dançavam nos vinhedos. O que elas diziam? ‘Rapazes, quem vocês escolherão (para ser sua esposa)’?” (Tratado Taanit, Cap. 4).
Nas últimas décadas, a cultura israelense passou a promover festivais de canto e dança e muitas baladas na noite de Tu b’Av. Não se trata de uma data formalmente religiosa. Mas, com o tempo, somos capazes de construir uma nova liturgia que fale, cante e promova o amor, em todas as suas expressões e possibilidades. Não falta inspiração: os Salmos, o Cântico dos Cânticos, poemas judaicos da Idade Média e canções israelenses modernas podem se mesclar para cultivar Ahavat Chinám, o Amor Gratuito.