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Fé na capacidade de transformação

Rabino Leonardo Alanati

Shavuot é uma festa de curta duração e abstrata, mas possui diversas mensagens profundas. Três costumes se destacam: levantamos ao ler o Decálogo, lemos o livro de Rute e comemos alimentos derivados do leite. O rabino Shlomo Riskin sugeriu que existe algo em comum entre estas tradições festivas.

Na maioria das sinagogas todos se levantam na Aliá na qual lê-se o Decálogo. Ficar de pé nesta Aliá indica a importância da revelação no Monte Sinai. Quando recebemos a Torá tínhamos acabado de sair da escravidão no Egito. Ainda carregávamos diversos traumas, medos e limitações. Acompanhando a caminhada destes ex-escravos pelo deserto, percebemos como a escravidão ainda não havia saído do seu interior, porque eles se rebelaram diversas vezes contra Deus e Moisés. No entanto, Deus acreditou em nossos ancestrais, na sua capacidade de amadurecer e se transformar, lhes confiando a Sua sagrada Torá. Tínhamos sido escravos, mas não estávamos condenados a permanecer com a escravidão dentro de nós para sempre.

A tradição de comer laticínios em Shavuot também está ligada à possibilidade de mudança. O leite se origina da vaca, que na sua essência é carne. Nas leis de Kashrut a carne não deve ser misturada ao leite. Isso nos ensina que o produto pode ser radicalmente diferente da matriz. Crianças podem superar a má educação ou o comportamento neurótico de seus pais. Indivíduos podem ir muito além das limitações do meio sociocultural em que foram criados.

Por último, lemos o lindo livro de Rute em Shavuot. Rute nasceu entre os moabitas, antigos e cruéis inimigos dos israelitas. Como uma moabita, Rute carregava o fardo da história de conflitos entre os dois povos. Os moabitas não se importaram com as privações dos israelitas no deserto. Rute, que era um modelo de bondade e caridade, agiu de forma totalmente diferente. Ela recebeu a família de Naomi fugindo da seca em Israel com comida e bebida. Ela amparou sua sogra após a morte de seu marido e filhos. Rute acabou unindo o seu destino ao do povo de Israel através de uma conversão sincera. A transformação nesta moabita foi tão profunda que a sua união com o israelita Boaz gerou a árvore genealógica do rei David e do futuro Messias.

Ainda há opressão, crianças em lares e sociedades desestruturados e povos que se odeiam. No entanto, caminharemos em direção à Era Messiânica quando atuarmos acreditando na possibilidade de transformação da dura realidade que vivemos em uma sociedade baseada na solidariedade. Shavuot nos lembra que possuímos a Torá, uma dádiva divina que demonstra a fé de Deus na humanidade.