(31)2535 1554 | secretaria@cimbh.com.br

A manipulação através do medo

Rabino Leonardo Alanati

O início da Parashá desta semana nos conta sobre um desconhecido Balak e continua com o pavor dos moabitas em relação à aproximação do povo de Israel. Mais adiante lemos que Balak é seu rei.

Essa transição de Balak de simples súdito a rei, levou nossos sábios a ensinar que, inicialmente, Balak era um cortesão que manipulou o medo de seu povo e conseguiu tomar o poder.

O medo saudável é um mecanismo positivo de defesa humana. Em situações perigosas sentir medo é normal e nos deixa alertas para tomar decisões rápidas. No entanto, na atualidade e nesta passagem nos deparamos com um pavor irracional sem fundamento, já que os israelitas não queriam guerrear.

Onde manchetes como estas foram anunciadas: “Hambúrguer mata crianças!” “O céu está caindo!” “Sitiados por assassinos, estupradores e ladrões!” “Desastres a caminho.”? Não foi nenhum jornal sensacionalista de terceira categoria. Essas manchetes foram publicadas por respeitados jornais e revistas tais como The New York Times, Newsweek e Time. Aaron Cohl, um advogado da Califórnia, as colecionou e publicou em seu livro: “Como o pessimismo, a paranoia e uma imprensa descontrolada estão nos levando ao desastre.”

Estas reportagens ignoram todas as boas pesquisas acadêmicas. “Em todo o mundo, nos últimos 250 anos, milhões de pessoas ascenderam a padrões de vida mais elevados, com avanços na saúde e na educação. Os padrões de vida hoje são significativamente melhores que os de um século atrás. Um número maior de pessoas se livrou do risco de morte prematura e vive o bastante para usufruir a prosperidade. Além disso, o rápido crescimento econômico em muitos países desde a II GGM ajudou a tirar centenas de milhões de pessoas da miséria. Recentemente, a China e a Índia são os maiores exemplos disso.” (Dr. Angus Deaton, Nobel economia 2015, Revista Veja 9/8/17) O Dr. Yuval Harari nos seus livros também compartilha desta análise.

Todas as previsões de falta de alimentos, de esgotamento das reservas de petróleo, da eclosão de uma guerra nuclear falharam. Novos tratamentos conseguem debelar antigas doenças fatais. A longevidade, com qualidade de vida, cresce a cada ano.

Infelizmente, vivemos em uma cultura do medo, promovida pela mídia e frequentemente por grupos políticos em busca do poder. Precisamos resistir a este tipo de manipulação. Devemos combater o pavor sem fundamento através da leitura de bons artigos científicos sobre o assunto. Podemos nos nutrir da esperança e da fé tão presentes em textos sagrados e orações do judaísmo. Vamos transformar em lema as palavras finais do Adon Olam: “O Eterno está comigo e não temerei.”